quinta-feira, 17 de março de 2011

O Tempo e o amor



"O primeiro remédio q dizíamos, é o tempo.
Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba.
Por isso os Antigos sabiamente pintaram o amor menino;
Porque não há amor tão robusto que chegue a ser velho.
De todos os instrumentos com que o armou a natureza. O desarma o tempo.
Afrouxa-lhe o arco, com que já não atira;
embota-lhe as setas, com que já não fere;
Abre-lhe os olhos, com que vê o q não via;
e faz-lhe crescer as asas, com q voa e foge.
A razão natural de toda esta diferença. É porque o tempo tira a novidade das cousas.
Descobre-lhe os defeitos, enfastia-lhe o gosto, e basta que sejam usadas para não serem as mesmas.
Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor?
O mesmo amor é causa de não amar, e o ter amado muito, de amar menos."

Sermão do Mandato - Pe. Antônio Vieira


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